SINOPSE

Guillermo Del Toro finalmente tornou-se hollywoodiano. Esta não é uma boa notícia sobre o espanhol que renovou o cinema de horror e fantasia com pérolas como ‘A Espinha do Diabo’ (2001) e ‘O Labirinto do Fauno’ (2006). Seu sotaque latino na direção dava uma nova voz e estética às produções góticas pós Tim Burton. Imaginativo e original são adjetivos constantes usados pela crítica ao descrevê-lo.

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Mesmo quando dirigiu o duvidoso auto referencial ‘Pacific Rim’ (2013), jorrou personalidade e verossimilhança em favor dos filmes de monstros asiáticos. Parecia goiabada com queijo a idéia de filmar uma história de terror ao estilo casa mau assombrada no século XIX. Tão óbvio. Como não haviam feito isso antes?
Pois bem, em ‘A Colina Escarlate’ (Crimson Peak), percebemos que ao conquistar um séquito de fãs e o prestígio dado aos grandes, a alma de cineasta B que sempre pairou sua obra foi se esvaindo. A produção é um grande deslumbramento visual que promete indicações ao Oscar nas categorias de direção de arte. Tanto é que referências maiúsculas se atropelam durante a exibição, nos remetendo visualmente a filmes como ‘A Época da Inocência’ (1993) e ‘Drácula de Bram Stoker’ (1992).

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A história se divide em dois blocos distintos de ação. Na primeira, um romance novelesco sobre o drama da jovem escritora burguesa novaiorquina Edith Cushing (Mia Wasikowska), assombrada desde a infância por aparições de fantasmas, incluindo sua falecida mãe. Quando adulta, apaixona-se pelo nobre inglês decadente Sir Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), indo assim para a segunda parte na propriedade soturna deles.

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Uma mansão sobre um lençol de argila não explorada, com um vermelho caldaloso que penetra as estruturas da casa, como uma metáfora literária da instabilidade presente na relação de ambos pelas circunstâncias de seu casamento. O grande fio de dúvida que paira está na controladora Lucille Sharpe (Jessica Chastain, impecável) irmã mais velha de Thomas. Aí está. Apesar do elenco cuidadoso e com desempenho notável, os clichês aparecem todo o tempo. A jovem frágil, o homem misterioso e a irmã sinistra. Os fantasmas são artificiosos, em um bonito e insípido CGI usado de forma irresponsável em jumpscares previsíveis. A trama torna-se elegante pelos recursos técnicos e narrativos, mas prejudicadamente lenta pelo roteiro ortodoxo, sem novidades.

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Este que deveria ser um filme com um grande twist (final surpresa), se perde em meio a falta de economia do enredo, pois os excessos visuais deveriam manter um roteiro enxuto e que revelasse aos poucos o mote. A conclusão é apoteótica e sangrenta, o que dá uma espécie de nó na garganta, como se a violência tentasse compensar a falta do sentimento primordial que o expectador deve ter nesse gênero, o medo. Realmente em nenhum momento sente-se uma ameaça real, pois tudo é beleza e artifício, mas nada desperta o horror primitivo, coisa que outros filmes já citados do diretor trouxeram. De uma forma geral, não deixa de ser o que sempre fez com competência, um espetáculo gótico com boa atmosfera, mas sem conexão com o público por falta de originalidade em um nicho que a Universal Pictures (estúdio do filme) sempre dominou. Melhor sorte na próxima, pois Guillermo é mais que isso.

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