“A Freira” reza mas não salva o Wanverso

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Não era de se esperar que, em 2004, o então desconhecido James Wan viria a se tornar um dos grandes nomes do terror moderno e a principal cabeça por trás de grandes franquias do gênero como “Jogos Mortais” e “Sobrenatural” (2010). Nossa atenção foi ganha mesmo em 2013, com o lançamento da surpresa “Invocação do Mal”. Cinco anos depois, Wan aparece como produtor e idealizador do quinto filme de um universo de histórias aterrorizantes e de sucesso, desenvolvendo personagens que agradam o público. Mas, como é de se observar em outras obras, quando a criança sai da mãos dos pais, ela fica desobediente e se transforma em outra. O mesmo aconteceu com o universo de Wan. Enquanto “Invocação do Mal” e “Invocação do Mal 2” (2016) apresentam boas histórias, com roteiros bem escritos e uma direção primorosa, os spin-offs/prequels não entregam a mesma qualidade. Depois dos fraquíssimos “Annabelle” (2014) e “Annabelle 2 – A Criação do Mal” (2017), a ideia então foi contar a história de uma personagem “X” com visual interessante mostrada rapidamente em um dos filmes. E, para não estragar a sequência, sua qualidade é muito abaixo.

E um nome que pode justificar isso é o de Gary Dauberman. Roteirista dos dois filmes adicionais do universo, Gary volta fazer más escolhas em “A Freira”. Justamente pelo alvoroço em cima da personagem, foi criada uma trama forçada para só colocá-la nas telonas. As justificativas da narrativa são as mesmas coisas básicas de milhares de outros filmes de terror, explorando demônios e maldições da religião. Os acontecimentos são banais, o texto é fraco, a trama é básica e os personagens são mal construídos. Um acerto nos dois filmes da Annabelle foi a exclusão de personagens de alívio cômico, já aqui, é o que ele mais explora. Há momentos de frases mal colocadas e com tons sarcásticos usadas tanto pelo personagem de Demian Bichir, quanto de Taissa Farmiga, que seguem um padrão clássico de personagens com atitudes burras devido a uma coragem incoerente. Mas o erro maior está no de Jonas Bloquet. 100% bobo e infantil, seu personagem não conversa com o universo e suas aparições não funcionam com o humor, fazendo o espectador desejar seu desaparecimento desde o primeiro instante.

Não só são mal colocadas, como as piadas também são mal escritas. O que os irmãos Hayes fizeram junto com o Wan no passado foi explorar o berço do terror com poucas quebras. O medo é constante e a construção do terror é bem feita, convidando o espectador ao ambiente. Quando há quebras, são pequenas e conseguem manter o público atento. Aqui, o clima nem tem a chance de ser construído. O início segue um padrão pífio de apresentação de situação e em seguida já temos momentos de descontração e toques de humor. O terror em questão é inexistente em grande parte, tanto que nem a criatura consegue passar o terror esperado. Por ser simples, faltou exploração cinematográfica, como acontece com personagens clássicos como Jason e Michael Myers. As viradas escolhidas por Dauberman – com colaboração de Wan – são fracas e inconsistentes, com justificativas mal elaboradas e uma conclusão fajuta. Aliás, conclusão essa que traz escolhas curiosas a níveis péssimos, que mistura o humor inadequado e ações de personagens dignas de aplausos sarcásticos pela genialidade negativa.

O resultado disso ainda mistura com a também fraca direção de Corin Hardy. Novato, aqui vemos o segundo trabalho do americano como diretor e em seu segundo terror, mas, mesmo ainda sem muita experiência, o projeto exigia um trabalho mais digno. Franquias exigem muito da permanência do público no consumo daqueles produtos, e para isso é necessário qualidade. Marvel manteve sua fidelidade pela sequência de bons filmes, tanto pelo prazer, quanto cinematograficamente falando. Ao falar da franquia de Wan, os spin-offs até funcionam em prender a atenção do público para o universo, mas quando o assunto é cinema, eles falham miseravelmente.

A direção de Hardy não mantém a qualidade nem dos dois filmes da Annabelle – que trazem um roteiro fraco, mas uma direção bem feita – e muito menos a direção de Wan, apesar de muitas vezes tentar reproduzir o estilo dele, com movimentos de câmera semelhantes e exploração do ambiente. Mas nisso que Hardy é o que mais falha. Além de más escolhas de enquadramento e estilo de direção, ele pouco explora o ambiente que tem em mãos. A ambientação se torna confusa ao passar do tempo e houve pouco “passeio” pelo lugar para introduzir o espectador em toda a situação. Sua falha existe também em diversos momentos em utilizar estilos diferentes de direção comparado ao que foi introduzido, e a mudança não apresenta justificativa nenhuma para tal atitude, deixando uma cena, textualmente já incômoda, visualmente também.

Com isso, Hardy decidiu trazer um tom mais leve, com poucos elementos de terror e cenas de susto. Por um lado, positivo, mas por outro, totalmente desperdício para um filme que poderia ter sido mais corajoso. Mas, para manter a mesma linha e servir apenas para agradar um público padrão, o filme se mantém no básico, e mesmo assim, toma as escolhas erradas.

Até então, nenhum dos três spin-offs se mostraram capazes de estarem no mesmo universo de “Invocação do Mal”. Apesar da existência das costuras, é nítida a diferença de qualidade entre os longas, e falta muito para provarem o contrário. “A Freira” levou ao pé da letra o significado da palavra “horror” com um filme que vai te aterrorizar até um filme bom de terror ser assistido. Um dica? Assista “Hereditário” e entenda o que significa uma história de terror de qualidade sendo bem dirigida e atuada, no caso, realizando o mínimo exigido pelos espectadores do gênero.

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