Dia 29 de junho é o dia de um profissional que você não conhece o nome e muito menos seu rosto, mas é um profissional muito presente em sua vida, e pode não parecer, mas o dublador brasileiro é muito mais importante do que você imagina.

O Brasil é um dos principais mercados de dublagens, ao lado da França e Itália, países que ainda não são 100% abertos a filmes legendados, tanto que 90% dos filmes exibidos na Itália e na França precisam, por lei, ser dublados. A exigência da dublagem e sua forte presença nos cinemas tornam sua qualidade cada vez maior, tanto que o Brasil está entre as melhores dublagens do mundo.

A discussão de preferência entre dublado e legendado é um debate recorrente entre os espectadores, acarretando em diversas discussões. E mesmo que a preferência pelo legendado possa vir a ser maior, a dublagem não é descartada. Antes de se tornar dublador, é preciso uma formação como ator e ter seu DRT, além de sua dedicação na dublagem, que muitas vezes, é maior do que a do próprio ator. Afinal de contas, a dublagem nada mais é do atuar em cima de uma atuação já feita.

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A dublagem brasileira foi iniciada no ano de 1938, quando ‘Branca de Neve e os Sete Anões’ (1937), chegou no Rio de Janeiro, nos estúdios da CineLab. Os primeiros trabalhos de dublagem foram iniciados pelas animações, e seguiu com ‘Pinóquio’ (1940), ‘Dumbo’ (1941) e ‘Bambi’ (1942). Trabalhos brasileiros já eram dublados nas produções da década de 40 e 50 para corrigir os inconstantes equipamentos sonoros da época, e com o tempo passou a ser um trabalho para filmes estrangeiros, e se tornou comum astros de Hollywood falarem português nas telonas e nas televisões brasileiras.

Mas afinal, o que é ser dublador? O dublador tem a função de ceder sua voz à interpretação de determinado personagem com o objetivo de substituir a voz original para o idioma local. Mas isso não é tudo, sabemos que o trabalho do dublador vai além.

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Em primeira mão, a dublagem tem a criança como primeiro alvo. Além de ser a porta de entrada das crianças às animações, as vozes dos personagens viram cotidiano e ganham a mesma força que a voz dos pais transmitem. Mensagens importantes que animações passam aos pais e seus filhos são compreendidas pelas duas gerações, ensinando aos dois, de forma deliciosa e dinâmica. Mas não basta uma simples e genérica dublagem, e sim, uma bem dirigida e encaixada.

Boa dublagem não aquela que simplesmente encaixa perfeitamente no personagem, mas sim aquela que passa despercebida. Assistir a um filme dublado e achar que ele, originalmente, é assim, demonstra a verdadeira dublagem. Outro ponto importante é a adaptação. Quando o estúdio recebe um filme, em seu idioma original, o tradutor prepara o roteiro do dublador a partir de uma tradução literal do texto original, culminando no primeiro erro.

A tradução literal não consegue transmitir a ideia de que obra parece ter sido feita originalmente aqui. E muitas vezes essa função de adaptação é passada para o próprio dublador. Cada país tem sua própria cultura e o cinema procura transferir esta cultura para a tela. Na dublagem não é diferente. Por exemplo: traduzir piadas americanas para o português não faz sentido e o público não se sente convidado a se divertir junto com os personagens, afastando cada vez o espectador.

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O Estados Unidos não possui a mesma cultura de dublagem que o Brasil. Dublagens das animações produzidas nos Estados Unidos são, em sua maioria, realizadas por grandes atores de Hollywood e não por dubladores profissionais, enquanto aqui, temos o profissional da área. O mercado de dublagem ganhou forças com os fãs do anime ‘Cavaleiros do Zodíaco’. Com uma equipe bem escolhida e uma direção impecável, o anime passou a ser reconhecido não apenas por seu enredo, mas também por suas vozes. O dublador Hermes Baroli pode não ser reconhecido na rua por conda de sua fisionomia, mas o som da sua voz é reconhecido por qualquer fã do personagem Seiya.

No início das produções haviam poucos estúdios de dublagem no Brasil e a grande maioria se concentrava nos estados de São Paulo e  Rio de Janeiro. No começo, o tempo de trabalho do dublador era um pouco maior, e muito se deve aos problemas com adaptação do texto e à baixa quantidade de estúdios. Para conseguir resultados melhores era necessário uma preocupação maior na escolha do elenco e da direção. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, novos estúdios independentes foram abertos – muitos deles na casa dos dubladores. Com uma entrega mais rápida e barata, muitas produtoras passaram a utilizar do trabalho deste tipo de estúdio, mesmo sem receber um produto de alta qualidade.

RIO DE JANEIRO, RJ, BRASIL - NOV 22: Forum Dia 02 - CRio 2012 - Pier Maua (Foto: Eduardo Sarmento)

A disseminação destes estúdios culminaram em um outro problema, a utilização de cantores e demais artistas, muitos sem a formação de ator, à pratica da dublagem. Tudo isso com o único propósito de aumentar as bilheterias. Recentes animações tomaram essa estratégia e poucas venderam o filme apresentando seu conteúdo, pelo contrário, optaram por focar no trabalho de dublagem feito por celebridades, diminuindo a importância do dublador profissional. Lembrando que grandes animações de alta qualidade não exaltar o trabalho do profissional dublador. Inúmeros atores e atrizes brasileiros se aventuraram no mundo da dublagem e deram certo, mas não todos.

Ignorar a importância do profissional de dublagem em detrimento da celebridade é a característica do mercado brasileiro atualmente, enquanto, as vozes de Guilherme Briggs, Wendel Bezerra, Miriam Ficher, Marco Ribeiro, Garcia Junior, Cecília Lemes, Carlos Galvan, Waldyr Santanna, Ursula Bezerra, Mônica Rossi, Sheila Dorfman, Marco Antônio Costa, Caio Cezar, Fábio Lucindo, Márcio Simões, Isaac Bardavid, Marcelo Gastaldi, Orlando Drummond, Mabel Cezar, Mário Monjardim, Manolo Rey, entre muitos outros, são os verdadeiros responsáveis pela dublagem brasileira estar entre as melhores do mundo.

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O dublador Guilherme Briggs, dono das vozes de Buzz Lightyear, Superman, Grinch, entre outros.

Grandes nomes tiveram seu início no rádio e com o tempo chegaram aos estúdios de dublagem. Não é um simples empréstimo de voz, existe a entrega, a atuação, muito mais do que isso, a paixão pelo o que faz. Não se trata de traduzir um simples roteiro do inglês para o português. É a adaptação, é brincar com a língua, é transmitir a cultura do próprio país em cima de uma outra cultura. Não se trata de dar sua voz a um personagem, mas sim de se tornar o personagem.

Infelizmente não conseguimos entender que uma boa dublagem pode superar a obra original. Com o tempo a dublagem se tornou uma segunda opção. Parafraseando o engenheiro de som, Gustavo Andriewiski: dublar ou é fácil ou é impossível.

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