À moda brasileira, “Dois Papas” é forçadamente voltado para o lado humano dos personagens

Dirigido pelo brasileiro Fernando Meireles, responsável pelo sucesso do cinema nacional, “Cidade de Deus”, bem como produções premiadas como “O Jardineiro Fiel”, o filme “Dois Papas” trata dos momentos correspondentes ao conclave que resultou na eleição do Papa Bento XVI (Anthony Hopkins) até a eleição de seu sucessor, o Papa Francisco (Jonathan Pryce), bem como mostra a relação nada amistosa, mas respeitável, dos dois durante o papado de Bento e diante das denúncias envolvendo padres pedófilos e casos de corrupção dentro do Vaticano.

São pontos fortes do filme as conversas envolvendo o então Papa Bento e o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio. As discordâncias entre os dois em torno do conservadorismo da igreja e sobre a aposentadoria de Bergoglio também são pontos que desenvolvem o enredo, sem deixar de lado a vontade de Bento XVI em renunciar e ver o arcebispo no próximo conclave para eleger o próximo Papa.

Meireles resolve dar uma pitada de bom humor nesta história bastante séria. O carisma dos personagens, especialmente o de Bergoglio, acabam dando um caráter um tanto excessivo para idealizar o lado humanizador dos dois Papas. Os gostos peculiares, como o interesse de Jorge Bergoglio por futebol, também são citados no filme.

O roteiro foi escrito por Anthony McCarten, responsável por grandes trabalhos como “A Teoria de Tudo”, “O Destino de Uma Nação” e, o mais recente, “Bohemian Rhapsody”. Embora seja bem direto, os diálogos se tornam confusos quando os diálogos são falados, em alguns momentos, em italiano e em espanhol, sendo o idioma predominante, o inglês.




Fatos curiosos e, em alguns momentos, até falsos, foram incluídos no roteiro. O interesse de Bergoglio por futebol não era mistério, mas dar ênfase a sua torcida pela seleção Argentina durante a Copa do Mundo de 2014, ocorrida no Brasil, pareceu um tanto desnecessário a ser colocado no filme, por mais que isso ficasse interessante para os brasileiros. As conversas, as quais na realidade não ocorreram entre Bento XVI e Jorge Bergoglio, também foram incluídas no enredo, citando por exemplo a conversa sobre a aposentadoria de Bergoglio. Mesmo diante de controvérsias, o exilio de Jorge Bergoglio é um também um ponto marcante do filme. Uma curiosidade sobre as cenas envolvendo o fato, mais precisamente, na cena onde são destacas as obras literárias lidas por Bergoglio durante o exílio, é a citação do livro Pedagogia do Oprimido, escrito por Paulo Freire.

A escolha de Anthony Hopkins para Bento XVI foi interessante devido a fisionomia bastante comparável ao do ex Papa. Jonathan Pryce, que nem todo mundo gosta, conseguiu convencer com o seu carisma interpretando o Papa Francisco.

A musica do quase desconhecido compositor americano Bryce Dessner, é um ponto forte do filme, por dar um tom meio latino pra história.

O filme conseguiu conquistar a crítica, recebendo 4 indicações para o Globo de Ouro 2020, incluindo o de Melhor Filme do gênero Drama. Lançado pela Netflix o filme pode ser visto diretamente pelo aplicativo da produtora ao invés do Cinema.

pt_BR