“Alguma coisa assim” é uma linda viagem de parceria através da transformação

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O quanto a sua vida se transformou em cinco, dez ou 20 anos? O tempo é o fator mais discutido, o quanto ele passa rápido ou devagar, se falta muito ou pouco. O tempo está por aí a todo momento e com ele vem as mudanças. Mudanças que podem transformar coisas pequenas ou grandes em nossas vidas, mas que moldam o ser humano, Entre atitudes ou pensamentos, há mudanças constantes no mundo e em nós mesmos, e por segurança, procuramos alguém para dividir essas transformações, que muitas vezes não são fáceis. Pode ser com um bichinho, um amor ou um parente. Em ‘Alguma Coisa Assim’ a jornada de transformação foi dividida entre dois amigos, que narram um passeio pelos anos através das transformações externas, mas principalmente internas, com ideologias e discussões antigas e novas, mas atemporais.

A ideia surgiu em 2006, ainda em formato de curta-metragem, no qual Esmir e Mariana se uniram com Caroline e André para contar uma história em meio ao cotidiano noturno da rua Augusta, em São Paulo. 12 anos depois, as coisas se transformaram tanto, que o curta inspirou no longa do qual estou escrevendo agora. Cito isso não só por ser o background dos diretores, mas pelo filme em questão se conectar com essas histórias contadas anos atrás. E mesmo que 12 não seja um número muito alto, em questão de tempo, representa uma distância significativa. Essa conexão entre os filmes faz da montagem de ‘Alguma Coisa Assim’ algo artisticamente belo. Esmir e Mariana mantiveram a estética do filme de 2006 e de outro material de 2013, tornando as três “linhas temporais” um contraste visual encantador. Além do visual, o contraste está na realidade dos dois e do mundo em si. A demonstração não só é feita através das imagens, nitidamente transformadas, como também na trilha sonora.

Amigos de faculdade, Esmir e Mariana provaram a conexão entre eles de forma clara, na tela. Não só na construção da história, como em todas as escolhas feitas. Entre elas está da linda trilha sonora. Com músicas artisticamente prazerosas, deixam de fundo barulhos de construções e reformas, reforçando as estruturas reais em constante transformação. Delicados sonoramente, os dois também enchem os olhos com uma Berlim desconhecida. Sem ficar na mesmice da cidade grande, os dois exploram cantos inexplorados, mas que trazem a delicadeza que as cenas pedem. A questão acaba sendo na construção da arte. Por mais que os dois entregam cenas lindas, não há um encanto metafórico por trás delas, que acabam dando uma sensação de forçação visual, apenas para deixar algo simples, como uma relação sexual, em algo extraordinariamente belo. Por mais que a intenção seja positiva para obra em si, particularmente, não agrada uma pausa na trama para encaixes artísticos. Até porque a força do filme está em suas mensagens e discussões.

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Inclusive, o filme traz um momento bem específico muito bem escrito aos moldes de Richard Linklater, característica essa que se concretizou durante a coletiva de imprensa, quando Esmir o citou como um dos seus ídolos. O roteiro traz muito das características do americano ao explorar momentos de debates e discursos complexos na atualidade. Relacionamento, sexualidade, aborto, amizade, lugar da mulher na sociedade. Os temas são bem equilibrados dentro da história, mas ainda que sejam discussões importantes e atuais para nossa realidade, não teve a carga esperada. Inclusive, o próprio final aberto não obteve o peso que a história exigiu. O peso, no caso, não está no tema discutido, mas sim, dos dois, juntos há anos, continuarem unidos e olhando para o amanhã, refletindo sobre como será dali para frente. Infelizmente, não foi feito um equilíbrio entre os dois discursos, sobrepondo a realidade dos dois personagens, que, por anos, viveram com suas igualdades e diferenças.

Parceria essa que se provou em tela também com o elenco. Mesmo após André Antunes ter abandonado a atuação depois do curta de 2006, escolheu voltar a viver o mesmo personagem e foi capaz de se mostrar seguro ao lado de Caroline Abras. Mesmo trabalhando com amigos, a paulistana – marcado por ‘Gabriel e a Montanha’ (2017) – carrega o longa nas costas. Um dos motivos acaba sendo pela sua profissionalização como atriz. Indiretamente, ela acaba diminuindo André em cena, sobrepondo seu trabalho. Isso se torna claro durante uma cena fundamental no ato final com um plano longo de discussão entre seu personagem e o de André. Caroline se mostra entregue, encarnada na personagem e soltando todo o peso de seu passado, e mesmo muito dele não ter sido mostrado, o público consegue visualizá-lo e entender suas ideologias.

Dentro do cenário do cinema brasileiro, ‘Alguma Coisa Assim’ é uma surpresa agradável e enche mais os olhos depois de uma dissecação. Superficialmente falando, o longa não surpreende do modo que queria. Ele ganha encanto depois da contextualização sobre sua origem, idealização e produção. Distante de encher os olhos, o drama brasileiro não deixa de ter o seu brilho, que é entregue sutilmente entre passagens temporais distantes que demonstram as mudanças e as transformações que passamos ao decorrer dos anos.

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