A nova animação da Dreamworks, “O Poderoso Chefinho”, é tão autêntica quanto o bebê de voz grossa, terno, gravata, sapato social e maleta que chega à casa da família Templeton para tomar seu posto como irmão do pequeno Tim, de 7 anos. A divertida produção, dirigida por Tom McGrath, contou com o talento e experiência do brasileiro Ennio Torresan como chefe do setor de storyboard. Ennio é mundialmente conhecido por seus trabalhos em animações como “Bob Esponja”, “Kung Fu Panda”, “Madagascar”, “Megamente”, entre outras.
(Divulgação)
Ennio, que hoje vive em Los Angeles, conversou conosco por telefone e falou sobre a produção dos storyboards e como o seu trabalho influencia no roteiro: “A gente pega o roteiro e reinventa ele todo de novo, visualmente, e a gente tem que fazer isso no papel mesmo, com a caneta, não precisamos necessariamente de um computador para isso, embora a gente use hoje Photoshop e essas coisas todas, mas o que mais importa é a rapidez com que você põe isso no papel e interpretar o que está escrito no roteiro, em imagens, no visual, de forma que seja coerente, dando ênfase aos momentos tanto emocionais como cômicos à história”.
“Muitas piadas aconteceram no storyboard, muitas piadas e muitos momentos influenciaram inclusive o roteirista, que teve que voltar e reescrever várias partes do filme para que ele encaixasse no que a gente tinha criado lá na loucura do storyboard”, disse Ennio.
“A gente acaba editando o filme todinho no storyboard, gravamos com atores temporários e é comum nós mesmos fazermos as vozes, só para ver se o filme está funcionando. A gente chama isso de animatic, demora mais ou menos uns 3 meses para fazer o filme inteiro, desenhado no papel, editado. São mais de 60 mil imagens, e nessas imagens a gente vê se funcionou, se aquela piada que a gente inventou deu certo, se está legal, se não estiver a gente começa a mudar e vai mudando até que a coisa funciona, o filme funciona, até que os momentos emocionais e cômicos funcionem”, disse Torresan.
Ennio ainda comentou sobre algumas dificuldades que a equipe teve durante a produção: “Foi muito difícil fazer esse filme porque ele tem vários elementos, ele não é só uma grande piada, existem momentos fortes no filme, entre o Tim e o bebê, como por exemplo a cena do aeroporto em que eles brigam. A gente ficou muito tempo debatendo se aquela cena era necessária, se ela não ia acabar com a relação entre eles. A gente foi mudando, no começa ela ficou leve demais, depois ficou sem sentido nenhum, até que a gente chegou a conclusão de que ela precisava ser mais forte. Esse é o ponto mais baixo na relação deles.”
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Artistas nacionais, como o paulista Renato dos Anjos, supervisor de animação de “Zootopia” e a mineira Natalia Freitas, que trabalhou no departamento de desenvolvimento de visual de “Moana – Um Mar de Aventuras” são alguns dos talentos que também conseguiram, assim como Ennio, chegar ao mercado americano das animações. Perguntamos à ele se o cinema de animação é mais aberto à talentos estrangeiros, Ennio respondeu: “São profissionais impressionantes, talentos incríveis que aparecem no brasil e acabam achando uma voz aqui fora. Existem estúdios no Brasil que não existiam quando eu comecei a entrar nessa carreira. Tanta gente no Brasil fazendo trabalhos fantásticos, alguns acabam sendo convidados para trabalhar fora por conta desses trabalhos. Não existia Anima Mundi quando eu comecei a fazer animação, hoje é um fenômeno anual que trouxe essa proximidade, inclusive eu acho que os profissionais do cinema de animação estão achando mais possível ter uma carreira fora do país ou ter uma relevância com o próprio filme do que os profissionais de live-action”.
“O Poderoso Chefinho” conta com as vozes originais de Alec Baldwin, Steve Buscemi, Jimmy Kimmel, Lisa Kudrow e Tobey Maguire. A animação está em cartaz nos cinemas brasileiros.