Saiu na BBC uns anos atrás que a NASA garante que vai conseguir provar a existência de vida fora da Terra até 2025. Recentemente, uma equipe de pesquisadores divulgou uma fotografia de um organismo misterioso, comprovadamente vindo do espaço, composta por carbono e oxigênio, elementos primordiais para a vida.
Ou seja, estamos realmente muito próximos de grandes descobertas nesse sentido. É claro que vários filmes já exploraram massivamente o assunto da vida alienígena, algumas vezes de maneira amigável, mas em sua maioria, como uma ameaça crítica e perigosa à nossa existência. E por que continuamos procurando?
Uma frase do próprio filme “Vida”, que estreia nos cinemas por aqui essa semana nos dá a resposta. Algo como “a curiosidade do ser humano supera o medo do desconhecido”. Se há vida inteligente lá fora, por que não buscarmos fazer contato? Essa também é basicamente a premissa do filme.
“Vida” conta a história de uma equipe de cientistas na Estação Espacial que descobre um novo organismo, que acreditam ter causado a extinção em Marte. Após encontrarem uma forma de reanimar a criatura, acabam descobrindo que a descoberta pode não ter sido uma boa ideia, quando suas vidas ficam em risco dentro daquela nave.
Dirigido pelo jovem e promissor sueco Daniel Espinosa (“Protegendo o Inimigo”), o elenco conta com rostos conhecidos e grande diversidade étnica. Jake Gyllenhaal é David, prestes a bater o recorde de dias isolados no espaço; Ryan Reynolds é um faz-tudo descontraído e piadista; Rebecca Ferguson é a responsável pelos firewalls de segurança e Ariyon Bakare é a mente brilhante por trás da descoberta, além de ser um deficiente físico que busca uma cura para sua condição.
Completam a diversidade a russa Ekaterina (Olga Dihovichnaya) e o japonês Sho (Hiroyuki Sanada), todos com alguma função específica na missão. “Vida” não é um filme de grandes pretensões como “Gravidade” ou “Interestelar”, por exemplo. Muita gente o tem comparado ao clássico “Alien” (a cena da interação na mesa é uma clara referência), porém de uma forma negativa, como se o filme tivesse a intenção de simplesmente fazer uma cópia descarada. Eu já não vejo assim.
A homenagem a “Alien” (e aos outros dois citados) é óbvia, tanto esteticamente como em termos de estrutura. Mas o filme tem personalidade de sobra para caminhar com suas próprias pernas. Primeiro que a direção de arte e os ambientes onde a trama se passa são construídos com uma noção de espaço e escala muito boas, causando claustrofobia quando necessário, mas explorando tomadas externas com efeitos visuais muito bem realizados e verossímeis.
Diferentemente de outros filmes do gênero, em alguns momentos a história volta para a Terra, para acompanharmos a repercussão da missão entre a população. Isso é importante, pois quando há o ponto de virada e a tripulação descobre que Calvin (é assim que os humanos decidem chamar a criatura) é uma ameaça, surge um grande dilema no filme que é fazer o sacrifício que for preciso para não permitir que ele chegue a Terra.
Assim, o filme cresce muito em suspense, com momentos e decisões que certamente vão surpreender muitas pessoas. Inclusive, decisões ousadas no roteiro são tomadas, o que também é um ponto bastante positivo em um filme do gênero. Outro ponto que eu considero bem diferente de “Alien”, é a dualidade da história.
Calvin não pediu para ser reanimado, mas agora que está vivo, considerando que sua composição biológica é a mesma dos seres humanos, vai precisar comer para sobreviver. Isso o torna necessariamente um vilão? Os seres humanos não caçam outras espécies quando estão com fome?
Outro elogio que o filme merece é sua coragem de dar uma “cara” ao antagonista durante todo o filme. É só pegar como exemplo casos de sucesso do suspense e terror como o próprio “Alien” e “Tubarão”. Nesses casos, a ameaça é escondida o máximo possível. Seus realizadores sabiam que trabalhar com a sugestão de alguma coisa é muito mais poderoso do que mostrar e acabar com a expectativa do espectador.
Entretanto, Espinosa dá a cara a bater neste filme. Em “Vida”, ele não usa artifícios como a escuridão ou a sugestão para deixar o espectador tenso. Pelo contrário, a fotografia do incrível – e indicado a 2 Oscars – Seamus McGarvey (“Marvel: Vingadores”, “Desejo e Reparação” e “Animais Noturnos”) nos permite ver tudo e mesmo assim sentir medo e apreensão. Brilhante concepção visual e trabalho técnico usado no filme.
Com esse organismo mais evoluído e inteligente à solta, somado ao fato de sabermos que ninguém está a salvo, pois esse não é um filme convencional onde os principais atores são intocáveis, é praticamente impossível não ficarmos apreensivos. Portanto, reduzir o excelente trabalho de “Vida” ao argumento de que seja “uma cópia descarada de Alien” é ser simplista demais e não se deixar envolver pela bela experiência sensorial que ele proporciona.
Sendo assim, “Vida” é um filme que precisa encontrar seu público alvo, pois é um terror/suspense espacial de muita qualidade. Vira praticamente um slasher em determinado momento, mostrando como os humanos não estão preparados para lidar com o desconhecido e como nossa vida é muito frágil. O ritmo do filme não é dos mais apressados, mas faz sentido por ser um filme de atmosfera, na qual o espectador precisa estar envolvido. E comigo funcionou muito.
Eu ia citar a pouca profundidade dos personagens como uma ressalva, mas há filmes onde a narrativa é movida pelo personagem e aí sim eles precisam de maior investimento, mas esse não é o caso aqui. Em “Vida”, o que move a trama é o mistério, é o jogo “gato x rato” na luta pela sobrevivência, então não chega a incomodar. Destaque também para a grandiosa composição de Jon Ekstrand, cheia de sinfonias dignas dos melhores filmes de expedição espacial existentes (o que dizer de “Godspeed, Doctor”?).
Concluindo, “Vida” é um suspense espacial altamente recomendado, com elementos que podem surpreender muito o espectador. Repleto de tensão, com momentos que são realmente assustadores. Houve uma teoria maluca que dizia que o filme seria um prequel para “Venom”, e é uma pena que não seja verdade. O longa ainda fica com o título provisório de “Melhor Final” de 2017, empatado com “Fragmentado”. E, para completar, guardem bem este nome, Daniel Espinosa é um diretor que ainda vai dar muito o que falar.
E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!