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‘Você conhece a missão, mas não as mulheres que estavam por trás dela’.

Baseado em fatos reais, ‘Estrelas Além do Tempo’ conta a história de um grupo de mulheres afro-americanas que trabalhavam na NASA durante o auge da corrida espacial contra os russos. Mesmo prodígios da matemática fazendo um trabalho importantíssimo em engenharia, tiveram que lutar contra todo o tipo de preconceito e desvalorização, simplesmente por serem mulheres e negras. A direção é do produtor e roteirista Theodore Melfi, que estreou recentemente na direção com a elogiada dramédia ‘Um Santo Vizinho’ (com Bill Murray e Melissa McCarthy). Ele divide o roteiro com a desconhecida Allison Schroeder (de ‘Meninas Malvadas 2’), adaptado do livro de Margot Lee Shetterly.

Mesmo tocando em um tema tão delicado e relevante como o preconceito racial, se engana quem pensa que ‘Estrelas Além do Tempo’ é um daqueles filmes pesados e extremamente dramáticos que costumam surgir em temporadas de premiações (vide ‘O Nascimento de uma Nação’, por exemplo). Até por algumas escolhas da produção, além do diretor e roteirista habituados a filmes de comédia, a fotografia lúdica e otimista de Mandy Walker (de ‘Austrália’, com Hugh Jackman e Nicole Kidman) e a trilha sonora do astro pop indicado a 2 Oscars Pharrell Williams (auxiliado pelo mestre compositor Hans Zimmer), já davam a entender uma leveza maior na forma de contar a história. Sendo assim, não é demérito algum comparar ‘Estrelas Além do Tempo’ a ‘Histórias Cruzadas’, outro filme de mesmo tema muito bem-sucedido na época de seu lançamento.

O filme é bem eficiente em apresentar as personagens, expondo a discriminação em meio a uma atmosfera bem ‘alto astral’ (como na cena onde são paradas pela polícia). Com isso, o espectador consegue criar empatia imediata em sua jornada e acaba torcendo para que Katherine (Taraji P. Henson, em grande atuação), Dorothy (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monae) consigam superar todos os obstáculos para alcançarem cada vez mais espaço rumo a seus objetivos. Entretanto, há controvérsias quanto a essa abordagem ‘suavizada’ do tema. Há relatos de que na época, a relação entre os engenheiros (homens ou mulheres) não era tão hostil quanto apresentada no filme, indicando um exagero na dramaticidade para tornar a história mais ‘fílmica’. Mas, como o filme não tem a intenção de ser um documentário e sim uma representação de uma difícil época onde os direitos civis não eram respeitados (não que tenha mudando tanto hoje em dia), a mensagem de segregação que o filme passa é extremamente relevante para os dias atuais.

‘Estrelas Além do Tempo’ tem essa atmosfera contagiante, que cativa o espectador e o faz manter-se investido na história. Há uma boa dose de conflito, que impede de deixar o filme entediante e ainda adiciona uma boa camada de tensão ao drama dos personagens. O elenco – vencedor do SAG recentemente – é realmente muito qualificado e competente. Além do trio principal que entrega sólidas atuações, com destaque para Taraji (que poderia ter figurado no Oscar de Melhor Atriz), Kevin Costner está excelente no papel de um chefe pressionado por conseguir resultados na corrida espacial. Mahershala Ali, Kirsten Dunst e Jim Parsons (o Sheldon, de The Big Bang Theory) têm papéis menores e personagens unilaterais, mas ainda assim não comprometem. Alguns aspectos técnicos também chamam a atenção. Além da trilha sonora ‘otimista’ que brinca até em momentos mais sérios do filme (como nas cenas do trajeto de Katherine ao banheiro), as cores também ajudam a reforçar a sensação de desconforto em alguns ambientes (como no trabalho, com sua paleta sem vida e apagada) e de aconchego em outros (a sala do chefe Al Harrison e a casa das garotas são muito mais acolhedoras e vibrantes).

OPINIÃO FINAL: ‘Estrelas Além do Tempo’ é um filme que traz consigo uma bela mensagem de união de que devemos colocar fim a discriminação, seja qual for. Por meio de personagens fortes e cativantes, consegue superar até sua trama um tanto previsível para entregar um filme iluminado e divertido, mas que tem momentos capazes de emocionar (a cena da placa de cor do banheiro é um desses momentos). A direção é competente – Melfi mostra que sabe construir sequências com grande poder emocional, como por exemplo, cada vez que Katherine tem seu martírio apenas para poder ir ao banheiro, o filme suaviza essa questão tornando a cena cômica. Entretanto, após duas ou três repetições deste momento, o diretor reverte a expectativa do espectador quando Katherine explode para dar um basta na situação, causando grande choque. Um dos momentos mais emocionais do filme. Apesar de não estar no mesmo nível de outros competidores ao Oscar de Melhor Filme, ‘Estrelas Além do Tempo’ entrega uma experiência divertida e gratificante.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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