“Paixão Obsessiva” falha feio ao tentar resgatar o gênero do “ex” psicótico

Talvez você já tenha terminado um relacionamento e quando achava que iria conseguir seguir em frente, o (a) bendito (a) voltava a te importunar com aquele famoso “oi sumida”, “tá tudo bem?” e etc. Se isso ainda não aconteceu contigo, cuidado, pode ser você a mandar esse tipo de mensagem para o (a) ex! Acontece que bem antes do “oi sumida” entrar na moda, o cinema já abordava o pesadelo do (a) “ex psicótico”.

Aqui de cabeça, lembro de alguns exemplos realmente assustadores. Entre os homens, Mark Wahlberg em “Medo” ou Patrick Bergin em “Dormindo com o Inimigo”. Entre as mulheres, o que dizer de Rosamund Pike em “Garota Exemplar” ou a doida clássica Glenn Close em “Atração Fatal”?

Esta semana estreia o suspense “Paixão Obsessiva”, filme de orçamento modesto protagonizado pelas estrelas Rosário Dawson (“Em Transe”) e Katherine Heigl (“Ligeiramente Grávidos”). A direção fica por conta da experiente produtora Denise Di Novi, embora seja seu primeiro trabalho atrás das câmeras.

O filme revive o subgênero com uma trama que tenta modernizar temas importantes e bastante discutidos atualmente, como violência doméstica ou o roubo de informações pessoais por meio de perfis falsos nas redes sociais. Entretanto, como veremos mais a frente, a forma como toca nesses assuntos é muito rasa ou até acaba passando uma mensagem “errada” ao espectador.

Após uma abertura misteriosa, como de costume o filme vai nos exemplificando como são diferentes as personalidades das protagonistas e futuras rivais. Julia (Dawson) é uma editora de sucesso que se muda para uma cidade pequena para começar uma nova vida com David (Geoff Stults), seu noivo. No entanto, Tessa (Heigl), a ex-mulher do rapaz e mãe da filha deles Lily (Isabella Kai Rice), não aceitou bem a separação e irá se mostrar um obstáculo muito grande na nova relação.

Vamos combinar que uma nova relação, por si só já é muito complicada. Especialmente quando envolve mudança de cidade e estilo de vida, ainda mais com uma criança envolvida. O filme acerta explorando esse caminho, porque torna plausíveis as dificuldades nessa fase de adaptação. O drama sofrido por Julia é forte, fugiu de um ex agressivo e acabou se deparando com uma ex ciumenta e possessiva.

Julia é uma mulher simpática, humilde e disposta a recomeçar, enquanto Tessa é completamente o oposto: antipática, arrogante e presa ao passado. Por mais que seja um uso comum esse tipo de contraste entre personagens nos filmes, funciona porque nos ajuda a gerar empatia com um lado e menosprezar o outro. Reparem na forma inventiva como Tessa é apresentada, cercada por três espelhos, multiplicando sua imagem como se indicasse “meu ego não cabe dentro de mim”.

Essa abordagem de contrastes, nas mãos de um diretor talentoso, pode proporcionar grandes reviravoltas e surpresas ao espectador. Infelizmente, não é o que acontece em “Paixão Obsessiva”. Embora seja um suspense, onde o mistério é fundamental para prender a atenção do público, o filme consegue ser frustrantemente previsível, entregando algumas respostas em aberto muito antes do tempo. Sem mencionar as falas bregas e situações muito convenientes para o roteiro, porém sem responsabilidade alguma com a realidade.

O roteiro é tão mal explorado que chega até a apresentar alguns personagens moradores da cidade, que poderiam ser mais ativos e usados para iludir o espectador ou causar desconfiança. Mas, com exceção do trio principal, não há profundidade alguma nos personagens, apenas estereótipos bem pouco elaborados. Há um elemento psiquiátrico, que justifica as atitudes do vilão, mas para variar, soa muito falso e preguiçoso.

Ainda com todas essas ressalvas, o filme caminhava dentro do esperado para mim. Por mais que eu já tivesse “matado” o mistério muito antes do tempo – por culpa do próprio filme, diga-se – ainda estava envolvido com o drama da personagem e preocupado com a garotinha Lily. No entanto, há um ponto chave entre o segundo e o terceiro ato do filme que foi determinante para minha indignação.

A partir do momento que uma personagem se atira da escada para provar que era capaz de tudo, é literalmente ladeira abaixo. As reações dos personagens passam a ser ridículas e inverossímeis, como quando uma das personagens tem o cabelo cortado; um objeto importantíssimo é roubado e eles reagem como se nada tivesse acontecido e etc. Toda essa galhofa que explode de repente, ultrapassa qualquer linha do aceitável e do bom senso. Um dos piores e mais relaxados desfechos que eu vi nos últimos anos.

Dito tudo isso, “Paixão Obsessiva” não passa de uma tentativa de resgatar o subgênero do “ex” psicótico que deu muito errado. Mesmo tecnicamente, não sobram muitos elogios, pois a trilha sonora para causar suspense é piegas e depois de 2 ou 3 repetições, não funciona mais. Os figurinos e o design de produção parecem fora de sintonia com o local onde a história se passa e a direção utiliza a câmera com planos que não agregam em nada a ação e os eventos que acontecem.

A mensagem também é errática, em pleno 2017 ver uma mulher tão dependente de um homem a ponto de fazer o que faz – por mais que possa existir alguns casos isolados -, chegando a propagar que um filho segure relacionamento, é muito antiquado e não agrega em nada nos importantes temas que o filme abordou no início. Reforço que o fato de não me agradar é uma pena, pois sou muito fã desse tipo de suspense “Supercine”, porém, um terceiro ato catastrófico que causa mais risadas do que qualquer outra coisa, realmente não pode ser levado a sério.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BR