‘Uma rebelião é construída na esperança’.
OS PRÓS E OS CONTRAS DE ‘ROGUE ONE’ EM 9 TÓPICOS SIMPLES E OBJETIVOS:
PANORAMA GERAL: Jyn Erso (Felicity Jones) é uma criminosa enviada para ajudar a encontrar um líder rebelde que a criou quando criança. Entretanto, ela acaba se envolvendo com a causa da aliança rebelde que tem a perigosa e extremamente importante missão de roubar os planos de criação da Estrela da Morte, uma arma letal capaz de aniquilar cidades com apenas um disparo. Contando com um pequeno grupo de apoio formado por outros rebeldes, eles partem para essa verdadeira missão suicida. A direção é de Gareth Edwards, um jovem diretor inglês especialista em efeitos visuais que ganhou destaque pela refilmagem do filme ‘Godzilla’. O roteiro é adaptado pelos experientes Chris Weitz (indicado ao Oscar pelo roteiro de ‘Grande Garoto’) e Tony Gilroy (indicado a dois Oscars, pelo roteiro e direção de ‘Conduta de Risco’).
CRONOLOGIA: ‘Rogue One’ é um dos filmes mais aguardados do ano por conta da quantidade de fãs existentes da franquia Star Wars, criada em 1977. Após a ótima repercussão do episódio VII ‘Star Wars: O Despertar da Força’ (2015), que reviveu a franquia nos cinemas após praticamente dez anos, certamente o estúdio (Disney/Lucasfilm) não terá receio em investir em mais produções cinematográficas da saga. Para situar quem não conhece muito bem a franquia, até o ano passado tivemos sete filmes, e ‘Rogue One’ se encaixa cronologicamente entre os episódios III e IV. Para ficar ainda mais claro, o filme se passa após o surgimento do vilão Darth Vader (ep. III) e antes de Luke Skywalker conhecer Han Solo e Leia para ajudar a aliança rebelde a enfrentar o Império (ep. IV). Um prévio conhecimento sobre os filmes anteriores é indicado, pois o universo é tão rico e cheio de personagens que pode confundir aquele espectador mais desavisado.
TOM MAIS SÉRIO E REALISTA: Muitas pessoas podem se surpreender com o tom mais sério e realista do filme, que se distancia bastante da usual fantasia que compõe basicamente a essência da franquia Star Wars. Mas isso já era de se prever pelos próprios profissionais escolhidos para o projeto. O já mencionado roteirista Gilroy, por exemplo, é responsável por todos os roteiros da franquia ‘Jason Bourne’ e o diretor de fotografia Greig Fraser se destacou pelo ótimo trabalho no filme de guerra ‘A Hora Mais Escura’. Então é um ponto muito interessante que, mesmo sendo um filme de 200 milhões de dólares, a estética e a própria trama do filme remetam mais a um clima de guerra e espionagem (normalmente de orçamentos bem mais baixos) do que a tradicional fantasia que envolve a série. Um dos elementos que eu mais considero importantes em uma sequência ou spin-off é trazer algo novo, identidade própria e nesse sentido ‘Rogue One’ se destaca muito positivamente.
Jyn Erso (Felicity Jones) e Cassian Andor (Diego Luna): protagonistas que não estão para brincadeiras
PONTOS POSITIVOS DO ROTEIRO: O roteiro do filme é sólido e como trama de espionagem funciona bem. Já a ‘guerra’ em si não está tão presente quanto poderia (se fosse esse o objetivo, é claro). Há sim excelentes confrontos entre os rebeldes e os soldados do império, substituindo sabres de luz (os jedis ou estão mortos ou escondidos) por armas e tanques, mas são cenas bem pontuais para ancorar a ação dentro do filme e ele não ficar muito monótono – e são incrivelmente bem filmadas, diga-se. Para mim, o filme está mais próximo de um ‘Operação Valquíria’ do que de um ‘O Resgate do Soldado Ryan’, como ouvi fãs mais empolgados compararem. É uma trama bastante introspectiva que carrega um peso dramático alto porque, apesar de sabermos como a história vai terminar, não sabemos nada sobre o futuro daqueles personagens (quem vai viver, quem vai morrer) e isso traz consigo uma boa carga de tensão ao espectador.
PONTOS FRACOS DO ROTEIRO: Há pequenos pontos no roteiro que deixam bem a desejar. Vou ser genérico evitando qualquer tipo de spoiler, mas logo de cara há um plano para salvar a família de um dos personagens que é absurdamente mal executado, resultando em uma morte completamente infantil e desnecessária. Só que esta morte vai servir para o arco do personagem e para fortalecer o nível de ameaça do vilão (Ben Mendelsohn, ótimo ator, porém com um personagem muito fraco, infelizmente), por isso ela ocorre. E a partir daí, são vários momentos em que ocorrem situações extremamente convenientes ao roteiro. Por exemplo, que tipo de prisão coloca uma janela entre as duas celas para que dois presos separados possam conversar tranquilamente? E outro onde aparece um monstro gigante utilizado pelo líder rebelde Saw Gerrera (Forest Whitaker) para torturar seus prisioneiros, sem que aquilo sirva ao filme de alguma forma. Além de outros furos e ex-machinas, que acabam virando uma constante no filme, mas só poderiam ser debatidos com spoilers.
ELENCO E PERSONAGENS: Em termos de elenco, ‘Rogue One’ acerta na diversidade. A britânica Felicity Jones (Jyn Erso), o mexicano Diego Luna (Cassian Andor), o descendente de paquistanês Riz Ahmed (Bodhi Rook), o chinês Donnie Yen (Chirrut Imwe), o afro-americano Forest Whitaker (Saw Gerrera) e o australiano Ben Mendelsohn (Orson Krennic), todos eles juntos, amplificam o escopo e a própria escala da história, tornando essa luta contra a tirania muito mais global e universal. Quanto a seus personagens, alguns funcionam mais do que outros. Donnie Yen juntamente com o pedante robô K-2SO (interpretado por Alan Tudyk) são os mais engraçados, na verdade, são a única válvula de escape para o filme não ficar tão sombrio, já que Felicity e Diego, os outros dois protagonistas, estão muito focados em seus demônios interiores e não são muito carismáticos. Mas infelizmente – com exceção deles dois – a motivação do restante da equipe é vagamente explorada pelo roteiro, o que é bastante frustrante, pois quanto mais conhecemos sobre um personagem, mais acreditamos nas suas atitudes. Ah, e o sempre ótimo Mads Mikkelsen mais uma vez entrega uma atuação respeitável.
DARTH VADER E PERSONAGENS DE FILMES ANTERIORES: Já era de conhecimento geral que Darth Vader (com a voz original de James Earl Jones) estaria no filme e posso garantir que mesmo aparecendo muito pouco, é para mim a melhor coisa de ‘Rogue One’. Além de ser um dos vilões mais icônicos da história do cinema, neste filme ele não simplesmente aparece, mas é responsável por um momento épico próximo ao final. E Gareth sabe muito bem como dirigir o personagem com o respeito que ele merece. Sua aparição, com uma sombra enorme mostrando sua imponência é emblemática, assim como o uso da força e o sabre de luz vermelho saindo da escuridão, absolutamente arrepiante. Personagens antigos aparecem também como Mon Mothma (Genevieve O’Reilly) – que foi cortada em ‘A Vingança dos Sith -, Bail Organa (Jimmy Smits), um cameo de C3PO e R2D2, além de dois personagens do Episódio IV que são recriados por CGI e quando aparecem impressionam. Portanto, nesse sentido de ‘homenagem’ aos filmes anteriores, ‘Rogue One’ também se sai muito bem.
Ninguém faz uma entrada tão dramática quanto ele…
EFEITOS VISUAIS E TRILHA SONORA: Os efeitos visuais estão incríveis, seja na reconstituição de personagens quanto nas sequências de ação e cenários. O 3D é totalmente dispensável. Com relação ao equilíbrio entre identidade própria de ‘Rogue One’ e homenagem a ‘Star Wars’, o filme acerta em uns pontos, mas exagera em outros. Alguns figurinos originais do filme de 1977 foram reaproveitados, há uma sequência dentro da base do Império que instantaneamente remete aos dois primeiros filmes da trilogia original, mas a trilha sonora – curiosamente, a primeira a não ser composta por John Williams – incomoda um pouco por um simples motivo. Ela está muito presente, não há muitas cenas de ‘respiro’. Uma boa trilha não é apenas uma bela melodia, com ótimos temas sinfônicos marcantes, mas aquela que é bem empregada em função do filme. Não acho nem culpa da composição de Michael Giacchino, até porque os temas da sua trilha conversam muito bem com a história da franquia, mas a decupagem exagerou na sua utilização.
DIREÇÃO E CONCLUSÃO: A direção de Gareth Edwards consegue trazer para ‘Rogue One’ características que o diretor tem como pontos fortes. Sua noção de escala, filmando os AT-AT da altura média do ser humano, agrega uma ameaça muito mais forte e imponente ao monstro (nesse caso, robô) – como o diretor já havia feito tanto em ‘Godzilla’ quanto em ‘Monstros’. A forma como usa os planos fechados muito próximos aos protagonistas indiretamente ‘colocam’ o espectador no centro da intriga e da ação, o que é uma experiência com a qual não estávamos acostumados em Star Wars, e também traz um charme próprio ao filme. Mas se engana quem pensa que todo o filme tem essa estética ‘documental’, pois o diretor reserva pelo menos dois planos belíssimos visualmente: uma cena na praia, que lembra bastante ‘Melancolia’ de Lars Von Trier e outra grande cena em uma plataforma na chuva, onde a paleta azulada se mistura com o fogo causando um belo contraste estético com as sombras e a dramaticidade do momento. ‘Rogue One’ funciona como filme de ação para novos públicos, é perfeito para os fãs da franquia e é uma grande e positiva surpresa por ser corajoso em vários momentos, mesmo que possua seus pequenos defeitos.
Enquadrados em contra-plongê (de baixo para cima), os AT-AT ficam mais ameaçadores e enormes
UM MOMENTO APIMENTADO: Qualquer uma das cenas com Darth Vader, sua participação é de arrepiar.
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