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‘Quando apenas um triângulo amoroso não é suficiente’.

Clement (Emmanuel Mouret) é um cara normal. Não é bonito, nem rico e nem muito inteligente. Mas de alguma forma uma famosa atriz de teatro chamada Alicia (Virginie Efira) se apaixona por ele. Tudo ia bem entre os dois até que Caprice (Anais Demoustier), outra atriz, só que bem menos conhecida também se apaixona por Clement, colocando em risco o seu relacionamento. Como se não bastasse, seu chefe e grande amigo Thomas (Laurent Stocker) começa a se aproximar de Alicia, rolando uma atração perigosa entre os dois. O filme é dirigido pelo próprio Clement (Mouret), nome bastante conhecido na França dentro do gênero da comédia romântica, como em um dos seus filmes mais famosos, ‘A Arte de Amar’ (2011), que está disponível no catálogo da nossa Netflix.

Até pela sinopse do parágrafo anterior, ‘Romance a Francesa’ mais parece um conto de fadas para homens. Aliás, algo que tem sido bastante recorrente nas últimas comédias românticas francesas é uma forte atração das mulheres por homens comuns, ingênuos e com pouca personalidade. Mesmo sendo um homem sensível (sabemos isso porque ele chora toda vez que assiste a mesma peça de teatro) e até simpático, embora tímido, não há como as mulheres se apaixonarem profundamente por ele de imediato como o filme quer demonstrar. Mas, como é apenas um filme, e nem sempre vamos ver a um filme com vontade de ver a realidade sendo representada (gostamos de um ‘faz de conta’ de vez em quando), sigamos em frente.

Como de costume nessas comédias de situação francesas, a atmosfera do filme é bem divertida, há muitas idas e vindas e confusões entre os personagens, tudo isso sem preocupação lógica alguma. Na verdade, para os fãs deste tipo de filme, o charme dessas histórias está justamente nos exageros que os personagens enfrentam em busca do seu objetivo, que é ter um final feliz. Caso o espectador decida embarcar de verdade na aventura de Clement e suas pretendentes, ele pode dar boas risadas e até ser surpreendido, pois embora o desenrolar dos fatos seja bem previsível conforme vamos acompanhando o progresso da história, o fato de haver um quadrado ao invés do tradicional triângulo amoroso torna as coisas mais interessantes e deixa sempre uma pitada de dúvida e curiosidade para saber como vai terminar a história (embora ela termine com uma narração… Sério, será que não deu para pensar em algo melhor?).

Mas, considerando que o espectador não faça parte deste seleto grupo de fãs de comédias francesas, tantas conveniências de roteiro e a própria premissa completamente improvável podem incomodar bastante. Embora o filme tente mostrar que o ser humano sofre da ‘infeliz necessidade de ser amado’ – como um próprio personagem menciona – e tente justificar as ações dos personagens desta forma, em momento algum suas atitudes parecem as de pessoas reais. Pela forma como um personagem reage quando descobre que foi traído, tantos encontros ‘casuais’ pela cidade (que parecem super forçados), além das próprias atuações que dão um ar muito mais teatral ao filme do que qualquer outra coisa… Outros fatores que reforçam essa áurea ‘teatral’ do filme são os próprios planos utilizados pelo diretor, com os personagens quase sempre enquadrados ‘de frente’ para o espectador, dando a sensação de um palco mesmo. Além da exposição frequente da história, contada através de diálogos bastante verborrágicos entre os personagens. Normalmente essa exposição acontece mais no primeiro ato, quando o espectador precisa de informações sobre quem são e o que querem os personagens, mas neste caso, ocorrem durante todo o filme.

Sendo assim, mesmo ‘Romance a Francesa’ sendo uma comédia romântica que por natureza talvez fosse mais indicada ao público feminino, sua temática subverte um pouco esse ponto de vista e pode ser apreciada também por homens que procuram encontrar sua garota dos sonhos. Emmanuel Mouret pode ser considerado já um especialista no gênero (dentro das suas limitações, é claro) portanto sabe como se comunicar com seu público alvo. Já ouvi pessoas o chamarem de Woody Allen francês, e embora as idas e vindas dos relacionamentos de seus filmes lembrem um pouco o que Woody faz com maestria, não há nem de longe como comparar os dois, tanto pela direção de ‘câmera’ e de atores, quanto pelos diálogos e pela abordagem semântica de suas obras (meio que o filme mostra que se você for um pentelho irritante pode acabar conseguindo aquilo que quer). No final de tudo, ‘Romance à Francesa’ é um filme inofensivo a quem estiver disposto a gastar seu tempo com ele, mas completamente dispensável perante várias outras alternativas mais interessantes disponíveis a nosso alcance atualmente.

UM MOMENTO APIMENTADO: Embora durante o filme eu tenha pensado ‘de onde veio essa luz?’, a apresentação de Caprice no teatro rende uma das cenas mais bonitas do filme.




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