Baseado na peça de August Wilson, o enredo traz Troy Maxson, um pai de família vivido por Denzel Washington, que trabalha como um lixeiro, sendo o mesmo um ex-jogador de beisebol que nos anos 50 tenta cuidar de família dentro de um tradicionalismo rígido, misturado com um determinado pré-conceito sarcástico em relação às pessoas brancas e a forma com que as mesmas conseguem dominar os negros financeiramente.
Troy tenta manter sua família estabilizada com uma vida relativamente simples, dando atenção a sua esposa Rose (Viola Davis) e seu irmão Gabriel, veterano de guerra que acabou se tornando deficiente após uma cirurgia na cabeça. Com todas as responsabilidades, Troy ainda deve dar atenção ao filho Cory (Jovan Adepo), o qual quer se tornar jogador de beisebol, contrariando a vontade do pai, sem falar que Troy ainda tem um filho de 34 anos, Lyons, que tenta ser um músico reconhecido, mas ainda depende financeiramente do pai.
Tecnicamente, o filme é demasiadamente chato nos primeiros 14 minutos. Nada de mais é conversado senão sobre a carreira de Troy no beisebol que não deu certo por estar velho. O interessante é que o filme começa a ganhar energia quando entra em cena o filho Cory, demonstrando o seu interesse em se tornar um jogador. Ao manifestar seu desejo para o pai, Cory se surpreende com um discurso racista e intolerante a respeito do “deixar como está” expressado por Troy, o que faz nascer um clima de frieza e inimizade entre os dois. O estilo “machão” mas compreensível de Troy acaba gerando uma barreira entre ele e a esposa, mediante acontecimentos que mudam totalmente a vida simples do casal e que se torna o ponto clímax da história.
Para quem espera um filme cercado de acontecimentos impactantes, talvez se decepcione, mas não é motivo para parar de assisti-lo, uma vez que o filme promete impressionar apenas com palavras. Isso mesmo! APENAS COM PALAVRAS! Algo que não se vê muito nos filmes dramáticos da atualidade.
Embora baseado em uma peça de mesmo título, o filme realmente possui os mesmos traços de uma produção teatral, a começar pelos cenários: cinco no total e nada mais, apesar da cena inicial onde Troy e o amigo Bono percorrem o bairro em um caminhão de lixo. As cenas com diálogos são totalmente paradas sem deslocamentos de um cenário para o outro. Contudo, são exatamente estes diálogos misturados com expressões envolventes que movimentam o filme de uma forma incrivelmente tocante.
As interpretações de Denzel Washington e Viola Davis dispensam qualquer apresentação. São incríveis, tanto no teatro quanto no cinema. Essa química entre os dois, não apenas lhes valeu respectivamente, as indicações aos prêmios de Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante. Curiosamente, Viola Davis não é coadjuvante e sim, a atriz principal do filme e, deste modo, a Academia de Artes e Ciência Cinematográficas, responsável pela premiação do Oscar, achou por bem indicá-la como atriz coadjuvante, talvez para não ter nenhum risco de uma possível derrota. Já quanto a Denzel, se pode ver que, de longe, é a melhor interpretação da vida dele, um papel que o mesmo nunca interpretou no cinema e, agora, tem a chance de consagrá-lo como o maior ator negro de todos os tempos.
Por falar em Oscar, um ponto curiosamente incomum envolvendo o filme foi a indicação do roteirista e também autor da peça, August Wilson, ao prêmio de Melhor Roteiro Adaptado. Até aí nada demais! O problema é que August Wilson já é falecido desde 2005 e o que lhe rendeu tal indicação e possível prêmio póstumo foi o fato de que o mesmo já tinha escrito o roteiro antes de morrer. Deste modo, a nomeação foi válida.
Diante da boa recepção do público e da crítica, é deveras fato de que ‘Fences’ conseguiu atingir o seu objetivo, conquistar as pessoas através da emoção e da arte.