“Um Lindo dia na Vizinhança” é uma tentativa canastrona de mostrar a trajetória de Mr. Rogers

Caso você esteja esperando uma biografia do mais famoso pedagogo dos Estados Unidos, o Fred McFeely Rogers, devo informar que não foi desta vez. Porém, é uma boa oportunidade para conhecer um pouco mais sobre ele sob o olhar de Lloyd Vogel (que, na verdade, era para ser Tom Junod), um jornalista que aprendeu a ser uma pessoa melhor devido a gentileza e autencidade de Rogers também fora das telas. Este carinhoso, dócil e patranho encontro você confere na estreia desta semana em Um Lindo Dia na Vizinhança, de Marielle Heller (Poderia Me Perdoar?), estrelado por Tom Hanks, magnífico como Mister Fred.

Fred Rogers (falecido em 2003 por consequência de um câncer no estômago) apresentou o programa Mister Roger’s Neighborhood entre fevereiro de 1968 a agosto de 2001, com um foco direto no público infantil. Com incentivo e apoio a crianças estadunidenses, Fred tinha o prazer em educa-las, inspirá-las e tirar delas medos que os pais empunhavam, tais como ‘’crianças são grandes demais para entrar pelo ralo do banheiro’’ e fazendo com que fossem obedientes.

Um Lindo Dia na Vizinhança tem um jeito um pouco fora do convencional de relatar fatos em que a história que era para ser de seu protagonista, não é o foco do longa. O foco mesmo é a amizade entre o Mister Rogers e o jornalista Lloyd Vogel que humaniza uma personalidade vista por muitos como santo e muito admirada nos EUA.

Tratando-se de uma figura importante já documentada, melhor conferir a obra Won’t You Be My Neighbor?, dirigida por Morgan Neville. O documentário chegou a ser indicado a diversos prêmios, sendo laureado com o Independent Spirit Award de melhor documentário, em 2018.

Tom Hanks (merecidamente indicado ao Oscar de coadjuvante por este filme) dá vida a Rogers em uma performance de cair o queixo. O filme começa com o Mr. Rogers em seu programa, abrindo portinholas e dentre elas, a de Lloyd Vogel. Durante os cinco minutos de projeção, Mr. Rogers solta uma frase: “alguém machucou meu amigo Lloyd”.

O filme segue narrando a história de Lloyd, um jornalista temperamental que na carreira faz sucesso, é casado e pai de um menino. Porém, possui um problema pessoal bem cabeludo: não fala com o pai há anos e carrega consigo um rancor por ter sido abandonado. No início, o público presencia uma briga entre eles que termina em vias de fato. Dali em diante o filme nos mostra como Mr. Rogers e Lloyd se conheceram, como ele faz as pazes com pai, como Mr. Rogers o ajuda a se tornar um ser humano melhor num melancólico e arrastado clichê mergulhado em um sentimentalismo barato.

Infelizmente, além da história não ir adiante com seu real propósito, Um Lindo Dia na Vizinhança não tem o mérito de fugir da mesmice de passar uma lição de moral como pano de fundo. O retrato pretensioso nos momentos do universo da vida de Mr. Rogers (impossível não se sentir carisma com cenas do doce e manso jeito de Rogers tratar as pessoas e a bonita cena do trem) e do temperamento de Lloyd, incrementa credibilidade as atuações de Hanks e Matthew Rhys.

Um Lindo dia na Vizinhança é uma tentativa frustrada de mostrar um pouco da trajetória de Fred McFeely Rogers em uma realização canastrona, utilizando apenas como inspiração a pessoa que foi Mr. Rogers. Lamentavelmente, é um filme que tem pouco a oferecer por causa do seu quiproquó vago roteiro. A caprichosa produção (as maquetes do bairro são de dar gosto) e a saborosa trilha sonora não escondem o cansativo ritmo que pouco mantém interesse.

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