“A Forma da Água” retrata romance e humanidade através da fantasia

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“Uma história sobre amor e perda e o monstro que tentou destruir tudo”.

É hora de nos aventurar por aquele vasto território onde a imaginação predomina: o universo da fantasia. Historicamente, a fantasia no cinema é usada para falar sobre o que está acontecendo no mundo atual, imaginando (ou sonhando) uma nova realidade onde podemos discutir e resolver tudo aquilo que nos incomoda no cotidiano. Usando o poder da imaginação, esses filmes nos transportam para outra realidade, onde é fundamental que seja construído um universo coeso, para não quebrar nosso envolvimento e crença na história.

E quem melhor do que o mexicano Guillermo Del Toro – um dos grandes nomes do cinema de fantasia atualmente – para nos transportar a esse novo universo? Se em épocas passadas a fantasia tratava de guerras, exploração espacial, invasão alienígena, domínio da inteligência artificial ou vírus capazes de destruir a humanidade, hoje há um engajamento muito mais social e humano em evidência, fato que fica totalmente claro ao analisarmos os principais temas do seu novo filme, o indicado a 13 Oscars “A Forma da Água”.

Nessa fantasia para adultos, Del Toro conta a história de Elisa (Sally Hawkins), uma mulher muda que trabalha como funcionária da limpeza de uma grande instalação de investigação governamental na década de 60. Após a chegada de uma misteriosa criatura capturada, ela acaba criando uma estranha conexão de amor e amizade com a “fera”. Elisa vive com seu amigo artista Giles (Richard Jenkins), um homem de terceira idade que sofre um amor secreto pelo atendente de uma lanchonete e tem como melhor amiga a colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer), uma mulher negra, que apesar do espírito otimista e forte personalidade, vive em função do marido e tarefas domésticas.

Uma fábula sobre amor e humanidade

Importante observarmos que um elemento em comum unindo todos os personagens citados é a solidão interior, bem como a sensação de “peixe fora d’água” – seja uma deficiência, orientação sexual ou condição de opressão histórica (social e racial) –  que precisam enfrentar perante a sociedade. A história se passa durante a corrida espacial na Guerra Fria, onde EUA e União Soviética rivalizavam para ter as melhores armas e se espionavam para ter vantagem sobre o adversário, usando vidas e outras descobertas no processo. Como diz um próprio personagem: “enquanto o homem pensa em ir ao espaço, não percebe o que acontece com seus iguais”.

“A Forma da Água” é um filme muito rico em camadas, abordando uma série de temas. Além da óbvia fábula romântica, também é uma obra sobre humanidade e progresso – deixar alguns erros no passado e olhar para o futuro de maneira positiva e inclusiva. Quando tinha 6 anos de idade, Del Toro ficou fascinado pelo filme “O Monstro da Lagoa Negra” – a história de uma criatura da floresta amazônica que se apaixona por uma bela humana, mas vira alvo dos cientistas, que querem captura-lo para estudo. Há vários outros exemplos, como “A Bela e a Fera”, “King Kong”, “Edward, Mãos de Tesoura”, etc. E assim como essas histórias, há um tema central que aproxima “A Forma da Água” de todas essas obras: “o verdadeiro monstro talvez seja o próprio ser humano”.

 

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O verde é a cor do futuro

Esse “monstro” é representado pelo chefe da segurança Richard Strickland (Michael Shannon), um homem que simboliza todos os males daquela geração (racista, sexista, desnecessariamente violento e opressor). No entanto, Stickland é um produto da própria sociedade, foi criado daquela forma e vivia pressionado por seus superiores a não poder falhar nunca. Porém, os tempos estavam prestes a mudar e Strickland resistia a tais mudanças, possivelmente com medo de perder seus privilégios. No filme, essa mudança é reforçada pela direção de arte, que por várias vezes ressalta que o verde é a “cor do futuro” e, não por acaso, a cor que Strickland mais odeia.

Através de figurinos, objetos, luzes, a própria torta de limão, cenários (como as paredes da fábrica, todos verdes), o filme faz uma analogia de como a sociedade está mudando. A própria pintura de Giles é recusada porque está perdendo espaço para a fotografia (símbolo do progresso) e quando solicitado a refazer o trabalho a pedido de um cliente, a solicitação demanda a utilização da cor verde. Mas talvez o símbolo mais claro seja o Cadillac. A sede de sucesso e dominação de Strickland o faz querer comprar um novo carro, para impressionar os outros. O vendedor consegue convence-lo de que um carro naquela cor o fará parecer um homem “à frente do seu tempo”, embora aquela imagem não dure intacta por muito tempo, pois não era sincera.

Compreensão ao invés da transformação  

Talvez “A Forma da Água” não impressionasse tanto se fosse apenas mais uma versão desses contos famigerados, mas há uma reversão no significado que traz uma identidade própria à fabula. De maneira surpreendente, a relação “estranha” entre as espécies consegue ser singela e ao mesmo tempo extremamente sexual. Ao contrário de “A Bela e a Fera”, por exemplo, onde a criatura se transforma em ser humano para viver “feliz para sempre”, o filme de Del Toro escolhe o caminho mais maduro de ensinar as pessoas a aceitarem suas diferenças, passando uma mensagem de compreender o incomum como uma maneira “normal” de ser.

Elisa é uma mulher diferente das outras. Seu problema de fala e postura sonhadora e amorosa, a colocam à margem da sociedade, ao mesmo tempo, a fazendo se sentir solitária e incompreendida. Alguns podem estranhar a imediata conexão com a criatura e achar que a relação entre os dois soou apressada demais, mas o filme constrói com várias pistas visuais sutis uma aproximação antes mesmo dos dois se encontrarem. A relação íntima com a banheira, as cicatrizes, os ovos cozidos borbulhando (como os hormônios da atração), são todos elementos que sutilmente reforçam uma conexão íntima entre ambos.

Considerações finais

“A Forma da Água” conquista e impressiona pela riqueza de temas, personagens cativantes, atuações de primeira linha (com destaque merecido para Sally Hawkins, que emociona sem dizer uma palavra), mas principalmente pelo esmero na construção do seu universo. Esse é o segredo de toda boa fantasia, por se tratar de uma realidade diferente da nossa, tudo precisa ser coerente e bem retratado para que o espectador consiga suspender a descrença, e é exatamente o que acontece aqui.

Importante ressaltar o trabalho de Doug Jones – que interpreta a criatura e também foi o Fauno no maior sucesso do diretor, “O Labirinto do Fauno” – e toda sua dedicação corporal. Além da direção de arte, belas e harmoniosas melodias de Alexander Desplat e a fotografia de Dan Laustsen – terceiro trabalho colaborativo com Del Toro, incluindo o belo “A Colina Escarlate”. O nível de realismo dos efeitos impressiona e a direção de Del Toro é segura para comandar todas as áreas de maneira bastante equilibrada.

Uma obra madura e requintada, que homenageia o próprio cinema (dedica uma atenção especial aos musicais clássicos) e é cheia de significados, e mesmo que alguma referência acabe passando batida, o importante é sentir a emoção que ela transmite. Se o roteiro não apresenta nada tão inovador, neste caso pouco importa. Afinal, o cinema não é uma matemática exata, mas uma máquina que fabrica sonhos e histórias maravilhosas como esta.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!

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