“A Pequena Travessa” é carismática e divertida, mas não atinge todo seu potencial

A sétima arte está repleta de produções feitas especialmente para crianças, com enredos divertidos e a intenção de passar mensagens positivas não só para os pequenos, mas também para aqueles que se aventuram em assistir uma história infantil, simples e, muitas vezes, comovente. Só neste ano tivemos, por exemplo, “Toy Story 4”, “Turma da Mônica: Laços”, “Ugly Dolls”, “Parque dos Sonhos”, entre vários outros. “A Pequena Travessa”, filme alemão dirigido por Joachim Masannek, não é uma exceção, obtendo sucesso em apresentar uma história divertida, cativante e, também, com mensagens bastante positivas para o público infantil.

O longa-metragem conta a história de Lilli Susewind, uma garota que tem a habilidade de falar com os animais e, com isso, acaba sempre arrumando confusão. Após se mudar para uma pequena cidade, a personagem promete para seus pais que não falará mais com os animais – com exceção do seu cachorrinho –, mas a promessa acaba se tornando difícil de se cumprir, pois sua nova escola a coloca para ajudar na inauguração do zoológico local, onde os animais estão desaparecendo um por um. Mesmo que não tenha um enredo totalmente original – pois já vimos uma premissa bem semelhante em “Dr. Dolittle” –, “A Pequena Travessa” consegue criar uma identidade própria, com personagens que, de forma simples, conseguem tirar sorrisos das mais diversas crianças. A fotografia do filme não se destaca, mesmo apresentando cenários que possibilitariam um maior enfoque na mesma – o que é comum em produções infantis –, mas a direção de arte, desde os figurinos até a cenografia, consegue enriquecer bastante a narrativa de forma criativa, tornando a história, assim, mais encantadora e cativante para o espectador.

Um dos personagens que incrementa bastante na narrativa, seja por pela direção de arte como pela própria narrativa, é o menino Jess, que se apresenta desde o começo como o garoto peculiar da escola, o “diferentão”, sendo ele super inteligente e responsável pelo desenvolvimento de diversas tecnologias que ajudam no decorrer da história. Mesmo sendo um grande clichê do gênero, a ideia funciona justamente pela junção do personagem high-tech com a menina que conversa com os animais, proporcionando ao filme uma dinâmica bastante criativa em relação aos dois amigos, estes responsáveis por conduzir a narrativa.

Entretanto, não são todos os clichês do longa-metragem que são abordados de forma criativa – e, acredite, são muitos, como a menina mais rica da escola, que é representada como a valentona, tendo seus sentimentos ofuscados pela vontade de mandar nas outras crianças. Os adultos, em grande parte, são retratados como menos espertos que as crianças, não entendendo ou não acreditando no que está acontecendo: o zelador do parque é facilmente manipulado pelas crianças e pela vilã do filme; a mãe da protagonista não acredita em nada que Lilli Susewind lhe diz, e a polícia da cidade é retratada como um grupo extremamente inexperiente. A dona do zoológico, por sua vez, é apresentada como a pessoa mais louca da cidade da forma mais genérica possível, sendo peculiar simplesmente por usar roupas estranhas, uma moto fora do comum, gostar de animais e ser dona de um zoológico simples e bagunçado. Vale ressaltar também que o único personagem acima do peso da cidade, um dos policiais, é ressaltado como um clássico bobalhão atrapalhado, sendo o mais incompetente dos polícias e tropeçando ou se sujando sempre que aparece em cena, algo que pode demonstrar uma insensibilidade por parte da produção do longa.

Mesmo com tamanhos clichês, a obra de Joachim Masannek ainda consegue passar algumas mensagens significantes para o público, como por exemplo, o fato de que até pessoas boas são capazes de tomar decisões ruins, o que não as torna, necessariamente, pessoas más. Entretanto, a principal moral da história – fator significativamente importante para obras infantis – é que todo mundo é diferente, e devemos tomar essas diferenças como uma coisa boa, algo que nos torna, de certa forma, especiais. Masannek consegue passar muito bem essa moral ao longo do filme, mesmo que, muitas vezes, não seja de forma discreta – a música dos créditos, literalmente, enaltece a importância de ser diferente.

Mesmo não sendo uma obra exemplar, com grandes originalidades ou qualidade técnica de se cair o queixo, a história de Lilli Susewind ainda pode ser uma boa fonte de diversão, apresentando uma história carismática e divertida – mas que, infelizmente, não consegue atingir todo o seu potencial, falhando algumas vezes no ritmo e na construção de seus personagens. Portanto, para quem procura apenas por um passatempo ou um filme para entreter as crianças, Pequena Travessa pode ser uma boa opção, sendo um conjunto de cores, clichês e animais fofos que consegue tirar alguns sorrisos não só do público infantil, mas também, possivelmente, de alguns adultos.

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