“Our Boys”, minissérie israelense da HBO, apresenta formato e narrativa bastante promissores

Em junho de 2014, três adolescentes foram sequestrados e mortos em Israel, resultando em uma grande comoção coletiva entre a população israelense. Os acontecimentos que seguiram tal fato não só marcaram como intensificaram os conflitos na Faixa de Gaza, fazendo com que a oposição ideológica e social entre palestinos e israelenses crescesse de tal forma a gerar ainda mais vítimas deste atrito. “Our Boys”, nova série israelense da HBO, busca abordar tais sequências de acontecimentos de forma bastante promissora, conseguindo conquistar o interesse dos espectadores logo no primeiro episódio.

Com “Chernobyl” e “Euphoria” conquistando grande aprovação – tanto do público quanto da crítica – no mesmo ano, a HBO provou que não tem medo de apostar em séries de tamanha qualidade técnica e dramática, e pode-se considerar que “Our Boys” é sua mais nova carta na manga para deslumbrar os mais assíduos fãs de audiovisual. Diferente de obras hollywoodianas, a série se desenvolve com a tamanha calma habitual de produções israelenses – as quais ganham muito menos destaque na mídia brasileira do que mereciam –, construindo seus personagens de forma lenta e paciente, permitindo o espectador a adentrar cada vez mais naquele universo narrativo e entender, de forma significativamente aprofundada, o contexto e a realidade tanto israelense quanto palestina.

Um dos principais méritos da série certamente é conseguir comover o público em relação aos acontecimentos da trama, focando na comoção em massa que uniu um grande número de simpatizantes israelenses que oravam, dia após dia, pela volta em segurança dos três rapazes raptados. Ao mesmo tempo, a obra impacta o espectador de forma bastante crua e realista, deixando-o cada vez mais intrigado e apreensivo conforme a história prossegue – mesmo que este já tenha conhecimento dos fatos históricos e saiba o que está por vir. O fato de que a narrativa se mantém neutra em relação ao conflito é um grande trunfo da série, sendo um dos principais fatores que gera tamanha apreensão: o espectador acompanha a esperança, inquietude e ansiedade do povo israelense, estes vítimas diretas da situação, ao mesmo tempo em que é convidado a seguir a angústia, medo e tormento dos palestinos, que fazem o papel de bode expiatório nessa relação conturbada em que são excessivamente acusados, de forma generalizada e preconceituosa, de ser a barbárie culpada pelo ocorrido.

A fotografia também é um fator que se destaca na obra, onde em determinados momentos a imagem se junta aos personagens de forma a tentar fazer o espectador se sentir dentro daquela cena, como se fosse apenas mais uma das diversas pessoas acompanhando a sequência de acontecimentos, como no momento em que a cidade se encontra um caos generalizado durante o final do primeiro episódio, e o personagem Muhammad se encontra correndo para voltar para casa. Em determinados momentos a imagem também adquire um filtro um tanto mais antigo, ressaltando o caráter documental presente na série – mesmo que esta ainda seja uma obra narrativa de ficção que retrata a realidade. A proposta, portanto, funciona muito bem, e a obra obtém sucesso em documentar, por meio da dramatização destes fatos, esta sequência de  conflitos que certamente foi um marco na História humana.

Em quesito de proposta e composição, é possível relacionar a série com “Olhos que Condenam” – obra da Netflix lançada no mesmo ano –, pois assim como esta última, a nova minissérie da HBO se esforça em contar uma história real de forma bastante responsável, dramatizando acontecimentos históricos de suma relevância para a humanidade – principalmente nos dias de hoje –, possibilitando que mais pessoas ao redor do mundo tenham conhecimento destes fatos e reflitam sobre a conduta humana em suas mais diversas posições. “Our Boys”, portanto, apresenta uma história bem pensada, esteticamente bela e estruturalmente comovente, se responsabilizando com que o espectador acompanhe e entenda uma parte bastante relevante – e frequente – da História tanto israelense quanto palestina, provando mais uma vez que o audiovisual pode ser uma belíssima forma de desconstruir e subverter a realidade e a conduta humana.

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