“3 Faces” | Jafar Panahi abrilhanta mais uma vez não só sua filmografia, mas também o cinema iraniano

[et_pb_section bb_built=”1″][et_pb_row][et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text _builder_version=”3.12.2″]

Com gosto pela crítica social em suas obras, Jafar Panahi se provou um cineasta especial. Não só pelo seu gosto em estar presente como um personagem em suas histórias, mas pela forma como transmite sua visão sobre a realidade na qual ele convive – o que lhe rendeu motivos para ser perseguido em seu país. É inevitável que o olhar ocidental para o cinema iraniano é mínimo, com um fraco holofote apenas para Panahi, Asghar Farhadi e Leila Hatami.

Assim, qualquer obra desses nomes acabam chamando devida atenção, mas longe de maneira gratuita. Além de diretor, Panahi também atua e roteiriza Três Faces, característica presente em seus outros quatro filmes – menos em Balão Branco (1995), no qual não atuou. Mas outro fator do cineasta que chama a atenção está em sua maneira de conduzir sua narrativa.

Cuidadoso, Panahi é maduro ao dirigir seu elenco e tratar a história da sua maneira. Como em Taxi Teerã (2015), o iriniano apresenta ao espectador um ponto de vista, porém, querendo que o mesmo olhe para outra coisa. Em Três Faces, sua narrativa chama atenção nos primeiro minutos, com um misterioso vídeo de um suposto suicídio. Com o caminhar, a questão ganha cada vez mais força, principalmente com os pontos apresentados pelos personagens – incluindo o próprio Panahi.

A mudança do olhar se prova devidamente ao fato de Panahi não se aproveitar do mistério por toda a narrativa, já que a solução é só uma desculpa para seu olhar crítico em relação a ignorância sobre a arte em seu país. Panahi realiza o mesmo feito em Táxi Teerã, apresentando seu olhar sobre determinados assuntos sociais em acontecimentos únicos, mas que fazem parte de um todo fechado.

Em Três Faces, ele foca em um ponto único. Aproveitando-se de uma cidadezinha do interior, o iraniano mostra, a partir de visões de moradores reais, a realidade fora das grandes cidades, um contraponto com o longa de 2015. Diante uma realidade mais carente, a discussão sobre a arte abrange principalmente o financeiro, estendo-se para outros meios, como o fato da arte ser vista como uma fuga, já que a mesma não coloca comida na mesa ou não traz a assistência que aqueles cidadãos precisam.

Ao mesmo tempo, Panahi escolhe uma personagem feminina com o centro dos acontecimentos, trazendo mais um ponto importante sobre todo aquele pequeno universo do país, já que mulheres são vistas com a função única do casamento, sendo proibidas, inclusive, de estudar.

A delicadeza do longa está em como Panahi introduz essa narrativa. O cineasta não tem medo de trabalhar com longos – e quando digo longos, são longos mesmo – planos para introduzir personagens ou situações. O melhor é que não há um incômodo, já que Panahi transforma a situação em algo natural, sem cortes para possíveis reações, até porque a importância da história está única e exclusivamente na personagem de Behnaz Jafari – interpretando ela mesmo. Nisso, o cineasta dá um olhar único para a realidade das mulheres artistas no Irã, mesmo com o mistério sendo o – suposto – centro narrativo.

Para esta apresentação, o cineasta entrega uma direção segura, sabendo exatamente o que tirar de seu elenco e também dos cidadãos da pequena cidade. Apesar de explorar menos planos longos com os não-atores, Panahi consegue extrair o melhor daquele cenário e ao mesmo tempo fazer a história caminhar de maneira natural.

O próprio texto também entrega isso perfeitamente. O longa não possui exposições gratuitas ou pleonásticas, fazendo tudo caminhar de maneira precisa. Muito do destaque do texto se dá pelas belíssimas interpretações, não só de Behnaz e Panahi, mas também da jovem Marziyeh Rezaei – também como ela mesma. Apesar de nova, a iraniana provou-se uma profissional madura, ainda mais pela proposta mais humana de Panahi.

A escolha de trazer “personagens” a partir da própria figura, transforma seu olhar em algo mais crível. Nesse caso, o cineasta se aproveitou de uma desculpa fictícia para mostrar uma realidade. E não através de artefatos técnicos de documentário, mas sim de uma “ficção” realizada com imagens reais, de pessoas reais com ideologias reais.

Apesar de surgir diante uma semana com produções mais comerciais, como Shazam e até mesmo Duas Rainhas, Três Faces é uma joia que embeleza não só a curta, mas precisa, filmografia  de Panahi, como o cinema iraniano em si.

[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]

pt_BR