Em Nome da Lei

Após ‘Tropa de Elite’ o cinema brasileiro tem redescoberto o gênero policial como produto cinematográfico. Filmes como ‘Federais’ de 2010 e o recente ‘Operações Especiais’ de 2015 são exemplos dessa nova safra. Todos são cheios de problemas e ainda utilizam demais a fórmula Globo Filmes que se assemelha muito às suas novelas. Entretanto, o crescimento desse mercado pode ser bem-vindo, se tiver o poder de levar mais pessoas ao cinema.

Por muito tempo o nosso cinema produziu esse tipo de longa-metragem, sem explorar seu grande potencial de bilheteria, geralmente associando essas produções à temática da ditadura de forma engajada. São representantes disso, filmes como ‘O Que é Isso Companheiro’ de 1997. O diferencial de filmes como ‘Em Nome da Lei’ (2016) e os citados no parágrafo anterior é que eles têm uma fórmula mais hollywoodiana ou mais “pipocão”, que privilegia o entretenimento e deixa a crítica-social em segundo plano. Claro que seria melhor se eles conseguissem equilibrar as duas coisas, como nos dois primeiros longas de ficção de José Padilha, mas nem todo filme policial vai conseguir manter a qualidade de um ‘Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro’ de 2010.

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‘Em Nome da Lei’ é inspirado em fatos reais que aconteceram com o juiz federal Odilon de Oliveira, que ficou nacionalmente conhecido por prender traficantes de drogas na fronteira do Brasil com o Paraguai. Atualmente ele vive sob forte escolta de policiais federais e atua na Justiça Federal de Campo Grande/MS, além de ser o responsável pela Penitenciária Federal da mesma cidade. Em uma atualidade como a nossa, em que juízes como Sérgio Moro, cada vez mais influenciam na esfera política e em poderes que ultrapassam o judiciário, influenciando no executivo e no legislativo, a temática é extremamente relevante para a nossa realidade.

Tecnicamente a produção é competente, a direção, a edição, a montagem e a trilha sonora, apesar de não serem memoráveis, conseguem atribuir um bom ritmo, que mantém a atenção do espectador na maior parte do tempo. O elenco foi bem escolhido e é o melhor aspecto do filme. Mateus Solano que interpreta o personagem principal (o honesto juiz Victor) é carismático e conduz bem a narrativa, com nuances entre a ingenuidade e a ansiedade próprias da juventude profissional. Paolla Oliveira (a promotora Alice) e Eduardo Galvão (o policial federal Elton) acrescentam qualidade para a história. Além de Solano, Chico Diaz também se destaca, fazendo “o poderoso chefão” da fronteira brasileiro-paraguaia (Gomes “El Hombre”), pois, apesar de fazer um vilão estereotipado, convence com sua expressão de poucos amigos.

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O roteiro é relativamente bem-escrito e conduz o enredo em uma efetiva tensão crescente. Na história o juiz Victor (Solano) é designado para a cidade Fronteira, na divisa com o Paraguai. Decidido a acabar com o tráfico organizado ele enfrenta os traficantes com a ajuda de Alice (Oliveira) e Elton (Galvão), entrando em conflito direto com os interesses de Gomez (Dias). Vale ressaltar a interessante atuação do Oficial de Justiça interpretado pelo dublador Gustavo Nader (que dublou, entre outros inúmeros trabalhos, Shia LaBeouf em ‘Constantine’ e ‘Paranóia’), que aparece rapidamente em vários momentos do filme, mas que de certa forma se destaca, roubando a cena quando aparece, representando diferentes formas de se “fazer justiça”, chegando a exercer uma função importante no desfecho da narrativa.

Sergio Rezende se destacou por dirigir filmes históricos como ‘Salve Geral’ de 2009, ‘Zuzu Angel’ de 2006, ‘Mauá – O Imperador e o Rei’ de 1999, ‘Guerra de Canudos’ de 1997, Lamarca de 1994 e ‘O Homem da Capa Preta de 1986. Sua filmografia é irregular, mas sua experiência é inegável. O mérito de ‘Em Nome da Lei’ está na aposta de uma boa construção de suspense, mas que perde qualidade por sua atmosfera de novela, com um moralismo desnecessário, principalmente nas cenas que tratam a violência de uma forma muito “limpa” e o sexo como algo que não deve ser mostrado. Entretanto, não deixa de representar “novos ventos” para o nosso cinema, por ser um tipo de entretenimento, com um conteúdo de reflexão, aliado à diversão, que dialoga com nosso contexto nacional, passado e recente.

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