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RESUMO:
No início dos anos 80, Roberto (Marcos Veras) é um escritor fã de futebol que junto com sua esposa Cláudia (Debora Falabella) estavam prestes a se tornar pais. Mas, toda a expectativa da paternidade frustra principalmente Roberto quando seu filho, Fabrício (Pedro Vinícius), nasce com síndrome de down. Enquanto tenta saber como demonstrar amor e ajudar seu filho, Roberto acaba se afastando de sua família, por ter vergonha e insegurança da delicada situação. A direção é do paulista Paulo Machline, que aproveita sua experiência com a temática de futebol (seu curta-metragem ‘Uma História de Futebol’ foi indicado ao Oscar em 2001) para adaptar para as telas a premiada obra homônima do escritor Cristóvão Tezza. O roteiro é assinado por Leonardo Levis, que colaborou no roteiro do filme ‘Alemão’ (2014).

SOBRE O QUE O FILME FALA:
A produção é de Rodrigo Teixeira (de ‘Frances Há’ e do recente ‘A Bruxa), que comprou os direitos do livro mesmo sabendo dos grandes desafios em adaptá-lo. Quanto ao tema, obviamente o filme mostra os desafios que os pais de uma criança com necessidades especiais enfrentam, como educação e tratamentos, por exemplo. Ainda mais em uma época onde não havia tanta informação como temos hoje. Indo mais além, o filme trata também como uma situação como esta pode colocar um ‘obstáculo’ entre o relacionamento do casal, especialmente se eles tiverem visões diferentes de como lidar com a situação.

ROTEIRO E ATUAÇÔES:
Como mencionei anteriormente, a afinidade do diretor com o futebol (neste caso a Copa do Mundo) serve ao filme como uma metáfora para quando criamos grande expectativa com algo e reagimos mal com um resultado traumático. Roberto era grande fã de futebol no início do filme, mas devido ao filho ter nascido na data de um jogo traumático para os brasileiros, ele nunca mais quis saber de futebol. E em cima disso, o diretor utiliza as Copas do Mundo desde a de 1982 como uma passagem de tempo que divide o filme – assim como as copas, a cada quatro anos o filme retrata o momento que a família está vivendo. A direção escolhe uma abordagem bastante honesta com o sentimento dos personagens, sem se preocupar se tal personagem vai parecer detestável ou ‘vilão’. E o resultado funciona, pois isso evita que a história fique muito melodramática e graças a interessante interpretação de Marcos Veras, nós podemos não concordar com suas ações (e provavelmente não vamos), mas ao menos entendemos que sua insegurança o faz agir assim. Isso gera empatia no espectador, pois só estando na situação saberíamos como reagir.

Enquanto Marcos consegue demonstrar toda a frustração e impaciência de Roberto, Débora Falabella faz o contraponto que tenta manter a família unida. Ela representa para o filho tudo aquilo que o pai se nega a oferecer. É atenciosa, paciente e gosta de Fabrício como ele é, buscando criá-lo – dentro de suas limitações, é claro – como uma criança normal. Portanto, dentro do desenvolvimento da personagem durante o filme, a atriz também passa muita credibilidade na sua atuação. E a dupla funciona tão bem que talvez isso seja o que o filme tem de melhor, ambos convencem como pais que precisam lidar com toda essa situação delicada do filho, embora reajam de forma completamente diferentes.

CONTROVÉRSIA E RELEVÂNCIA:
Mas ‘O Filho Eterno’ também possui algumas ressalvas. Talvez a principal seja sua pouca relevância considerando que aborda de forma bem rasa a síndrome de down. Como já mencionei o filme não busca conquistar o espectador pela emoção – embora haja um momento que é bem tocante -, mas abordar a trama de forma honesta e realista. Sendo assim, desperdiça-se aí uma grande chance de voltar os olhos do espectador para esta deficiência genética que aflige tantas pessoas (e de todas as faixas etárias), que sofrem com preconceito e discriminação todos os dias. Sem esses momentos de maior conflito, parece que se substituíssemos a síndrome de down por qualquer outra necessidade especial, o resultado seria o mesmo. O filme toca no assunto, mas não o desenvolve.

CONCLUSÃO:
‘O Filho Eterno’ entrega boas atuações e tem um bom ritmo que o impede de se tornar maçante, mas peca ao não se aprofundar no tema principal. A utilização das Copas do Mundo como metáfora tanto para a passagem de tempo quanto para a experiência traumática do protagonista é inteligente e bem explorada. Embora a história não seja tão intrigante e não haja uma grande lição a ser aprendida após dedicar 1 hora e 22 minutos acompanhando aqueles personagens, o elenco e a direção tornam a trama plausível e aquelas pessoas reais, sem exageros. Não é nenhuma obra tão marcante, mas que tem capacidade para cativar o espectador, especialmente graças a surpreendente atuação dramática de Marcos Veras.

UM MOMENTO APIMENTADO:
Roberto perde o filho durante o fatídico Brasil X Argentina na Copa de 90, a sequência mais emocionante do filme.




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